quarta-feira, 23 de maio de 2012

Cores


CORES

Sorvi uma réstia de Sol cálida e dormente
E senti um desejo de violar o intransponível
E perceber o inexplicável.
Entrar num mutismo apenas contemplativo
Exorcizar o preto, o cinza, até o branco.
O frio polar do branco.
Pintá-lo de magenta, de laranja, de amarelo
Mas calar a transparência da cor e o vazio do sentido.
Possuir-me pelo vento. Esse vento que refresca
Que inunda, que destrói… Mas que intervém!
Que muda o arrumado, e propõe tratados de mudança.
Emergentes. Declarativos. Inconformados.
Como se o silêncio que nos acomoda, se transformasse em ruídos de protesto
E de um extravasar de sorrisos detidos, mas fortes e urgentes.
É urgente amar
É urgente esse barco no mar
É urgente esse flutuar mas com sentido
É preciso gritar, cantar, ser louco
Sobreviver
É urgente não calar
E mostrar no desencanto
O poder de se estar vivo.

MARIA MOURA, maio de 2012

Silêncio


SILÊNCIO

Revi-me na nudez do silêncio.
Mudo.
Inquieto.
E acomodei-me em escaparates sólidos e intocáveis
Numa arrumação
Quase sagrada
Mas flutuante de incertezas ásperas e quase rudes.
Sei que no limite do entendimento
É desajustada a pesquisa do que fomos e somos
Como se a vida não passasse de códigos
E sinais de fumo
Que é apanágio de poucos.
Esses poucos que não vivem
Mas fingem que sentem
Pobres esses
Continuam na batalha inglória de existir
Mas na verdade não vivem
Nem existem
E deles não há memória.

MARIA MOURA, maio de 2012

Sobrevivência


SOBREVIVÊNCIA

Sinto me hoje no limiar do medo e do abismo
Na visão introspetiva da realidade crua
Insensível e discrepante
Cruel.
Desajustada.
Pensei na sobrevivência dos sentidos
E na mudança do imutável
Na perfeição do irreversível.
Na cor
Na terapia da cor.
Na falta de sentido da dor
E no amor.
No toque da pele e no gemido de prazer
No prazer de te ter
E de ser
A tua completa e avidamente
MULHER.

MARIA MOURA, maio de 2012

Luís


LUÍS

Talvez venha da lua o teu nome.
Talvez da alma o teu brilho.
Veredas indecisas na pesquisa do caminho.
Sozinho.
Na procura do tudo e do nada, mas de um toque seguro e dócil
De quem te é amada.
És turbilhão e canção,
Às vezes razão, outras não.
Refletes paz e desassossego numa simbiose quase perfeita
Que ora faz, ora torna a existência inquieta,
Quase desfeita.
És talvez o mar tranquilo
Mas onde se adivinha a tempestade do grito e do silêncio.
Amo-te, e a verdade é perceber se isso basta
ou é apenas uma das tuas,
e mais uma introspeção.
Coração, isso tens dessa forma intensa e sedutora
Talvez até redutora das existências formatadas e banais.
Amo-te, e nos meandros da dor e do delírio
Que cala e até sufoca
Desnuda-se uma certeza,
A de remarmos nas ondas serenas
E no mar encarpelado
Mas em sentidos iguais.

MARIA MOURA, maio de 2012