INTELLIGERE: explicar a evidência, pela representação do invível através do corte vertical em Arquitectura
terça-feira, 31 de janeiro de 2012
Avenida da Boavista - Corte no território e Diagonal na imagem
Se o traçado da
Avenida da Boavista cortou um território alargado (estranho e externo) à mancha
urbana que conformava a cidade do Porto nos meados do século XIX, constituiu
também a génese de uma estrutura física conectora de lugares até então
distantes.
É, assim, um
gesto que corta, liga e congrega um leque diversificado de matérias e materiais
urbanos correspondentes a um longo processo de transformação urbana.
De dramático ou
radical a frágil e inseguro no processo de transformação urbana e configuração física
da cidade do Porto, este traçado incorpora uma realidade riquíssima com cerca
de 250 de história se considerarmos a origem da sua configuração na Rua da
Boavista, como travessa almadina.
segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
domingo, 29 de janeiro de 2012
Secção urbana - Leonardo Da Vinci
Verificada a ruptura do destino da utilização sobre o plano horizontal (previsão da zona) e da utilização construtiva puramente volumétrico – quantitativo (normas e regulamentos), a secção arquitectónica deixou de constituir um controlo técnico-construtivo de verificação à posteriori, mas torna-se uma das figuras de partida do projecto, o núcleo gerador de toda a composição, a estrutura teoricamente infinita das novas construções. Não é por acaso que hoje, na impressionante investigação de precedentes históricos, encontramos frequentemente retomados os desenhos de Leonardo da Vinci para uma cidade de vários níveis ou o projecto para a sistematização londrina do Adelphi da autoria dos irmãos Adams, sob a forma de cortes arquitectónicos, destinados a demonstrar uma estrutura dos percursos e dos bens mais complexa que, através de uma imagem a vários níveis, permita compreender a sobreposição de diferentes necessidades e intervenções. Os percursos mais variados, os bens mais diversos, os destinos mais articulados tornaram-se assim elementos de uma composição arquitectónica que anule as relações precedentes e rompa com os limites de propriedade para os transformar no perímetro da forma arquitectónica proposta. (Carlo Aymonino. O significado das cidades. p. 41)
DO RIO AO MAR - A evolução da Cidade do Porto
Passando pela seguinte sequência de espaços públicos (toponímia atual)
Rua de São João,
Largo de São Domingos,
Rua das Flores,
Largo dos Loios,
Rua do Almada,
Praça da República (Jardim Teófilo de Braga),
Rua da Boavista,
Avenida da Boavista,
Praça Mouzinho de Albuquerque (Rotunda da Boavista),
Avenida da Boavista,
nó da VCI,
e Avenida da Boavista...
Casa da Música 2 - Nuno Portas
A estratégia de implantação do edifício baseia-se claramente na manutenção
de um afastamento da edificação envolvente (um corte com o contexto) por forma
a destacar o sentido objectual que o volume poliédrico hegemoniza. Esse sentido
objectual, para além de provocar estranheza constrói um forte sentido
iconográfico que permite propagar a Casa da Música para além do local onde se
instala. Em relação a este edifício, Nuno Portas procura extrair as
consequências em termos de imagem da cidade e afirma que:
“A pedra de Koolhaas é uma ‘pedra no charco’, é um típico projecto da cidade genérica. Costumo dizer como tendência que numa área histórica é a morfologia preexistente da área que escolhe o programa, porque ela é regrada ou modélica. Na periferia, ao contrário, é o programa que escolhe a área, porque ela é mais desregrada, não tem modelo. Este jogo de palavras ilumina pouco esta diferença. O que acontece ali é um homem que teoriza a cidade genérica como o Koolhaas toma a praça da Boavista como sendo já o começo da cidade genérica, e não como uma praça histórica, apesar de a Boavista para os portuenses ser a alternativa mais consolidada que existe ao centro tradicional do Porto”.
Entre o MATERIAL e o IMATERIAL urbano - Cidade e Arquitetura
De um modo genérico pode afirmar-se que, no território da cidade
contemporânea, os sistemas formais e de relação, físicos, correspondem
dominantemente a fenómenos pontuais e fragmentários, enquanto que as leituras e
os sistemas de estruturação e conexão, globais, tendem a ser predominantemente
imateriais, isto é, não físicos. Talvez estes últimos com uma condição virtual
que, no âmbito desta explanação, se confrontam com o sentido do real. Nestes
termos, se a disciplina da Arquitectura trabalha sobre a materialização das
formas de organização do espaço deve aceitar-se que a sua condição de acção
transformadora só pode ser fragmentária, reservando-se, assim, as necessárias
envolvências, perspectivas e compreensões globais para domínios do pensamento e
entendimento imateriais, não físicos.
Mas,se esta é a condição de saída para o pensamento e para o exercício
disciplinar da Arquitectura sobre a Cidade, como é que se tratam aspectos
também do seu domínio como: os sentidos de conjunto; os critérios de
legibilidade e identidade, urbanas; as relações entre a regra e a excepção; a
materialização do espaço público ou colectivo, etc.? Qual passa a ser, se é que
existe ou interessa, a organização formal e física dos lugares urbanos enquanto
entidades e identidades socio-culturais, como componentes essenciais no domínio
do património civilizacional?
A verdade é que, o virtual é um domínio com uma elevadíssima capacidade de
actualização porque não arrasta, necessariamente, consigo a territorialidade e
inércia das realidades físicas, bem como os artefactos culturais radicados nas
experiências seculares do saber acumulado pelo homem. Para além disso o virtual
está também associado à sofisticação dos meios de simulação de determinados
contextos, reais ou mesmo e mesmo e também virtuais, isto é, tende a resolver
os seus níveis de eficácia no domínio do não físico. Contudo, é também um facto
que, se não se reconhece ao real a capacidade de arrastar e liderar o sentido
de percurso do virtual, este, também não parece revestir-se sempre de uma
condição credível para liderar o sentido da transformação do real.
Em síntese, face a um território urbano alargado e multiforme, os
Urbanistas, os Geógrafos, os Economistas Urbanos, os Sociólogos, os
Arquitectos, os Planeadores procuram construir novos espaços de entendimento e
trabalho, novos paradigmas, que permitam tratar e prever como devem ser os
“palcos” públicos e as representações urbanas e culturais dos actuais e futuros
modos de vida socio-culturais e político-económicos.
CORTE/SECÇÃO URBANA - Manuel Solà-Morales
Manuel Sola-Morales em
1994 destaca que:
“A secção urbana interessa quando relaciona o projectado com o existente, e valoriza assim a estratificação que a nossa proposta junta à espessura da forma urbana.
Também quando relaciona as diferenças da planta com a força coerente do perfil em alçado, da topografias ou dos factos monumentais da cidade.
Porquê que a identidade vem do corte? Porque a identidade das cidades não é a identidade por freguesia, do pequeno frente ao grande, do local frente ao universal, do autóctone frente ao estrangeiro, do vernáculo frente ao consumista, senão das formas particulares de relacionar as diferenças metropolitanas. E assim não é estranho que os velhos perspectivistas das cidades as tenham desenhado nas suas secções. Fizeram-no os futuristas e os arquitectos do iluminismo, fizeram-no os engenheiros do século XIX e os metabolistas japoneses, fizeram-nos Alvar Aalto, Giuseppe De Finetti, Le Corbusier, Jacob Berend Bakema e Álvaro Siza, para citar só alguns dos intérpretes modernos do intercâmbio de tensão edifício-cidade. Domínio que poucos arquitectos famosos cultivam hoje em dia. Hoje abunda muito o plano: nos projectos e nas ideias.” ( SOLA-MORALES, 1994; p. 179)
Da materialidade urbana - Manuel Solà-Morales
Na sequência de muitas transformações urbanas recentes Sola-Morales considera que “Estranheza e complicação confunde-se com a suposta complexidade urbana” ( p.146)
Sobre esse exercício cultural, que é a Arquitectura, Manuel Sola-Morales destaca algo essencial sobre a substância material do urbano que do seu ponto de vista interessa tratar. Assim, afirma que:
“A temporalidade está, sobretudo, nos muros e nos solos. Na cidade consolidada os muros falam com os solos. As suas texturas e diferenças matizam a uniformidade dos espaços e criam intercepção e conflito. Na relação solo-parede consegue-se a exibição e a ênfase. Atender aos muros como materiais do espaço urbano é reconhecer o protagonismo indiscutível dos pisos térreos, ali onde se produz a dissolução do limite privado-público, a diversidade espacial das circulações, os modos em que se interpenetram interior e exterior, em portais, aparcamentos, terraços, comércios, etc.
A urbanidade resulta da articulação de coisas urbanas, que não depende das funções ou de actividades, mas antes da matéria de muros e esquinas, em desníveis e fachadas, em vias, calçadas, janelas, portais e vitrinas, em rampas e semáforos, em alinhamentos e recuados, em gálibos e voladizos, em silhuetas e anúncios, em plataformas e vazios, huecos e descampados. Não como os detalhes do townscape, mas como matéria contínua do espaço construído.” (p.147) (SOLA-MORALES, 2005)
Método de Monge - segunda metade do século XVIII
Monge define Geometria Descritiva como “(…) «… a arte de representar sobre o papel de desenho, apenas com duas dimensões, os objectos que têm três, e são susceptíveis duma definição rigorosa…»; assim, enquanto a grande preocupação renascentista consistia justamente em romper a bidimensionalidade, introduzindo a ilusão da terceira dimensão, Monge procura reduzir de novo todas as formas, por decomposição geométrica, a duas dimensões.
A substituição da perspectiva, que mostra, pela descritiva, que analisa, tornará esta, e ainda nas suas palavras, numa «… espécie de linguagem necessária a todos os artistas…» permitindo a unificação dos programas teóricos e estabelecendo, pela primeira vez, a distinção entre projectos de concepção e de execução; trata-se de uma dicotomia que, separando o que o renascimento associara, tendia a acentuar a ruptura entre noções de beleza e de uso, opondo à imagem pictórica, interpretação global e equivoca da realidade, a imagem gráfica, com mensagem claramente unívoca; assim, se criavam também condições para a reprodução de projectos conceptuais então considerados exemplares, na tratadística que entretanto se ia difundindo na Europa.” (Ferrão, p. 78)
Casa da Música 1
Para entender o fenómeno projetual da Casa da Música no Porto gostaria de destacar que para Koolhaas “Qualquer processo de colonização – a inserção de uma determinada cultura num local estranho – é, em si, um CP (método critico-paranóico de Salvador Dali), ainda mais se ocorrer no vazio deixado pela eliminação da cultura anterior.” (p. 275) Rem Koolhaas, Nova York Delirante, Editorial Gustavo Gili, SL, Barcelona, 2008 (primeira edição de 1978)
Efeito de corte 16 - Rua Álvares Cabral (1895-1940)
A construção da
Rua Álvares Cabral (1895-1940) pode considerar-se pioneira como processo de transformação urbana
e operação imobiliária de iniciativa privada na cidade do Porto. Contudo, a verdade é que esta operação tem como base e experiência as práticas que haviam reforçado as zonas de expansão da cidade há cerca de 100 anos (à data) através da "urbanística de caris
iluminista" almadina, que implementaram um modelo de desenho e
transformação urbana tão genérico como de elevada qualidade e inteligência estratégico-operativa.
Deixando o aprofundamento deste
tema para outros momentos, o que me interessa aqui pôr em
evidência é que o gesto inicial de "corte" na unidade da Quinta
oitocentista potenciou a criação de um espaço-canal, uma rua, que
liga ainda hoje dois lugares referenciáveis (aliás como assim o faziam as travessas almadinas) e incorpora, assim, numa
nova entidade (agora) urbana um conjunto de relações e atividades que lhe dão
esse singular significado na história e funcionamento da cidade.
Comportamentos/pensamentos desviantes pessoais n+2
Eu partilhei convosco no post anterior que o meu comportamento desviante se estava a acentuar. Não sei onde isto vai parar...
Este prato foi dedicado a uma amiga que tinha saudades de arroz à valenciana. Ficou bom (digo eu, cntando com a boa educação de quem o comeu...).
sábado, 28 de janeiro de 2012
Comportamentos/pensamentos desviantes pessoais n+1
Tenho 12 meses para concluir a escrita da tese de doutoramento. a coisa está a compor-se...
Contudo, perturba-me o facto de que tudo serve para atrair as minhas atenções, dispersando-me...
Estou a demonstrar imensa competência em larguissimos assuntos, como por exemplo tratar da casa, organizar a agenda de forma extraordinária e, vejam bem, preencher cuidadosamente o curriculum no site DeGóis. É notável!
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
A diletância da Arquitetura...
Se a
Arquitetura conseguisse ultrapassar a sua caminhada, muitas vezes obsessiva,
diletante e auto complacente na direção exclusiva do culto do objeto, excludente e virtuoso, poderia aspirar à
construção do espaço em espera. Aí, poderia aspirar à construção de uma relação
de harmonia em potência, onde para além dos jogos, da tríade vitruviana, se
trabalhasse intensamente sobre as relações entre o tempo, o espaço e a matéria.
Só há Arquitetura se houver Homem, se houver inquietação, devir e
indeterminação. A Arquitetura é uma disciplina que trabalha sobre relações, e
nesse sentido deverá ser capaz de estar atenta e à altura da sua matéria de trabalho
por excelência, a organização do espaço,
às condições e à qualidade de vida humana.
Mas afinal o que se vê a partir da rua?
O que se vê a partir dessa rua da qual nem todos vemos razões objetivas para nos
desligarmos?
Ali, o nosso olhar deambula… procura referências… O
nosso olhar procura fixar-se para depois se deslocar…Fixa, para que através de
um efeito surpresa, procure captar outro ponto…Afinal, o que é que nós
procuramos?
Vê-se o céu e vê-se o chão. Veem-se linhas verticais,
horizontais, diagonais e curvas… Veem-se planos, volumes e superfícies
complexas. Veem-se opacidades, transparências e penumbras… texturas, luz e
sombra. Veem-se claros, escuros e cores. Veem-se regras e exceções. Vê-se ordem
e vê-se caos… orientação e desorientação. Veem-se ritmos, cheios e vazios.
Veem-se pessoas e carros… sinalética variada. Veem-se encontros e desencontros.
Por vezes veem-se árvores…
entre a cidade e a arquitetura
O entendimento de Álvaro Siza em Imaginar a Evidência sobre a relação entre a cidade e a arquitetura afirma que
A cidade é constituída pela repetição de
pequenas unidades que asseguram o tecido contínuo, do qual emergem as grandes estruturas
institucionais. (…) Este duplo registo determina a intensidade da expressão
arquitetónica. Não existe um monumento imponente na cidade sem a continuidade
anónima de múltiplas construções: trata-se de aspetos qualitativos
complementares. E contudo, na evolução da cidade, a perda deste sentido do
papel de cada construção está aos olhos de todos. A generalizada ambição de
protagonismo torna por isso impossível qualquer forma de protagonismo.
Da evidência ao conhecimento...
Para nos
auxiliar na determinante passagem da evidência ao conhecimento Paul Klee
deixa escrito em Escritos sobre Arte
que:
Pesa-me o Passado...
"Pesa-me o passado. Não o amo. Prende-me o futuro porque não o conheço! Estou preso ao corpo aqui e agora. Só disto julgo saber e me interessa falar. O passado parece dizer-me cada vez menos sobre o futuro…! A História morreu! (apesar de se ter sofisticado a historiografia, como indústria transportadora e continuadora do pensar e fazer, humanos)." LViegas
Entre a incerteza e a esperança...
"Se os corpos luminosos estão carregados de incerteza, nada mais resta do que depositar esperanças na escuridão, nas regiões desérticas do céu. O que pode existir de mais estável do que o nada? E no entanto, também acerca do nada não se pode estar certo a cem por cento." Palomar, Italo Calvino
A investigação em Arquitetura...
A investigação em Arquitetura é uma empresa que trabalha em muitas circunstâncias sobre problemas com contornos difíceis e variáveis. Muitas vezes os seus limites são intratáveis de forma precisa e são muitas vezes convocados para os respetivos domínios como a Engenharia, a Geografia, a Sociologia, a Economia, a Antropologia, a Sociologia, a Ciência, a Arte, a Filosofia, a Política, a Cultura e, ainda, os media.
Relação entre a História e o Projeto
A criação e a
transformação colocam o problema da relação entre o novo (ou nova condição) e o
velho (ou velha condição). A verdade é que não existe criação a partir do nada.
Quando se transforma, transforma-se algo já existente.
Relação entre a Teoria e a Prática
O exercício da Teoria corresponde à construção de
um saber disciplinar transmissível de forma mais rápida, eficaz e
generalizável. Em qualquer domínio disciplinar, pode dizer-se que se o
exercício da teoria tende a generalizar as matérias e os materiais com que
trabalha, o da prática tende a particularizar e tornar singulares as suas
respostas. Neste sentido, são ações que apesar de poderem trabalhar sobre a
mesma matéria têm sentidos divergentes. A verdade é que nem todas as práticas
profissionais se suportam num sofisticado aparelho teórico, como nem todas as
práticas teóricas se baseiam afincadamente na reflexão sobre as práticas
profissionais.
Lucio Fontana "Spacial concept"
Agrada-me o gesto e o resultado
Mistura..., intensidade, intencionalidade, rigor, determinação, liberdade contenção e... verticalidade. ESTE É TAMBÉM UM CORTE VERTICAL
Mistura..., intensidade, intencionalidade, rigor, determinação, liberdade contenção e... verticalidade. ESTE É TAMBÉM UM CORTE VERTICAL
RESTART 25/1/2012
Bem a verdade é que não tenho nada a dizer...
Apenas quero fixar este momento como o RESTART 25/1/2012.
A partir daqui muita coisa vai mudar...
em breve partilharei o que se passa :)
Apenas quero fixar este momento como o RESTART 25/1/2012.
A partir daqui muita coisa vai mudar...
em breve partilharei o que se passa :)
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